25 de Abril de 1974

23 de outubro de 2021

25 de abril de 2021

25 de Abril de 1974


«Quando a 25 de Abril de 1974 um grupo de jovens capitães leva a cabo um golpe de Estado que, em menos de 24 horas, derruba uma ditadura que dominava Portugal há mais de quatro décadas, o rumo da história nacional muda decisivamente. As suas vidas, assim como as de milhares de portugueses, estavam prestes a alterar-se de forma radical. Em breve, o golpe de Estado dá lugar a uma Revolução que durante quase dois anos agita o país, abrindo um leque de possibilidades quanto ao caminho a seguir.»

Maria Inácia Rezola, 25 de Abril - Mitos de uma revolução


26 de março de 2021

A doação do Condado Portucalense - redação de um texto

Resultado de um trabalho realizado pelas turmas do 5.º ano, de redação de um texto sobre a doação do Condado Portucalense.

Tópicos obrigatórios do texto:

- Quem fez a doação do Condado Portucalense;
- A quem foi doado;
- Quando foi doado;
- Por que motivo foi doado;
- Quais as condições impostas por quem o doou.

Texto final do Romeu (5.º B), depois de corrigido.

«O Condado Portucalense foi doado no ano de 1096. Quem fez a doação do condado foi D. Afonso VI e foi doado a D. Henrique e a D. Teresa.

O condado foi doado a D. Henrique pelos serviços prestados por este a D. Afonso VI no combate contra os muçulmanos. 

As condições impostas pelo rei D. Afonso VI foram as seguintes: D. Henrique tinha de prestar auxílio militar quando o rei pedisse, tinha de ir às suas cortes, defender o Condado Portucalense dos ataques dos inimigos e alargar as fronteiras do Condado a sul, através da conquista de terras em posse dos muçulmanos.»



14 de março de 2021

Se D. Afonso Henriques tivesse BI...

 ... em tempos de República.

A Leonor (5.º C) não pôs em causa o regime republicano. 
E o BI ficou catita!...

 

A Alice (5.º B) privilegiou o texto manuscrito e o preto e branco.

Ambas apontam 5 de agosto de 1109 como sendo a data de nascimento e Guimarães como o local.
Mas será que foi mesmo assim?

Guimarães é tradicionalmente apontado como o seu local de nascimento e a tradição "ainda é o que era". Mesmo que os estudos mais recentes apontem para Viseu (ver vídeo) - os jovens alunos têm dificuldade em se desapegar do que aprenderam como sendo certo.  


 

Também é difícil aceitarem que não se sabe a data certa de muitos acontecimentos antigos.
Mas há muitos sites em que as datas são indicadas com uma certeza absoluta e vá lá saber-se quais as fontes para tanta certeza. Isso acontece mesmo em informação facultada por pessoas (divulgadores, professores, investigadores (?), etc.) que deviam ser mais rigorosos. E um dos sites indicados aos alunos incorre nesse erro.
Não fica mal dizer-se que não existe certeza quanto às datas... quando não existe. É muito mais honesto e correto.


Árvore genealógica de D. Afonso Henriques

 Clicar em cima para ampliar.



28 de fevereiro de 2021

História do azulejo

 Uma breve história do azulejo português, contada a partir da exposição permanente do Museu Nacional do Azulejo.



27 de fevereiro de 2021

As medidas de comprimento

Já falámos aqui da variedade de pesos e de medidas nos primeiros séculos da monarquia portuguesa.

As antigas medidas de comprimento apresentam uma particularidade curiosa.

Quando ainda não existia o metro, nem as outras medidas baseadas no metro, para medir o comprimento usavam-se medidas baseadas no corpo humano. O padrão de medida usado em Portugal era o palmo.

Nem todas as pessoas tinham palmos iguais, mas estava estabelecido que o palmo tinha um tamanho relativamente definido que media (nas unidades atuais) cerca de 22 cm.

As outras medidas usadas no comprimento baseavam-se neste palmo.
As medidas mais usadas eram:
- A vara, que media 5 palmos.
- O côvado, que media 3 palmos.


A vara e o côvado nas portas da vila de Sortelha
e na vila do Redondo


Havia ainda outras medidas relacionadas com o corpo humano:



26 de fevereiro de 2021

Os pesos e as medidas

O ato de medir faz parte da vida humana desde as primeiras civilizações.

É preciso medir ou pesar os produtos que se compram, trocam e vendem ou com os quais se pagavam impostos. É preciso medir as distâncias entre locais ou as superfícies dos terrenos. É preciso definir as medidas dos edifícios que se constroem. É preciso medir o tempo... 



As medidas que usamos em Portugal estão definidas no Sistema Internacional de Unidades (SI).

Para o comprimento, a medida principal é o metro (m).

Nas medidas de volume ou de capacidade, usamos o litro (l).

Na medição da massa (na linguagem comum às vezes chamamos "peso"), o padrão de medida é o quilograma (kg).

Mas nem sempre foi assim...


No tempo de D. Afonso Henriques e durante vários séculos, os pesos e as medidas eram muito diferentes dos que usamos agora e tinham outros nomes: não havia metro, nem litro, nem quilograma.

Os vários sistemas de medidas usados em Portugal até ao século XIX cruzam influências romanas, árabes e europeias.

Pesos antigos, em granito

Medidas de capacidade: chamadas "medidas de pão"
- alqueire, meio alqueire e quarta de alqueire

A quarta, a rasa, a arroba, a onça, o arrátel eram nomes de medidas de peso, entre as mais usadas. 
O tonel, a pipa, a cuba, a cabaça e o quartilho eram medidas de capacidade.
O almude e o alqueire eram, simultaneamente, unidades de peso e de capacidade, pois em muitos locais havia uma relação entre as medidas de sólidos e de líquidos.

Cada aldeia tinha as suas medidas. Por exemplo, uma arroba numa aldeia podia ser mais pesada do que uma arroba de outra aldeia, mas o preço do produto em causa podia ser o mesmo.


Nas pedras das portas dos castelos ou das igrejas 
estavam marcadas as medidas de comprimento, 
para que os comerciantes pudessem saber 
o seu valor nessa localidade.


Tudo isto originava a existência de enganos e de abusos.
Por esse motivo, vários reis procuraram criar um sistema uniforme de pesos e de medidas, pois eram eles que tinham o poder de os definir. 
Mas, nessas épocas mais recuadas, muitas terras eram governadas por nobres e por elementos do clero (da Igreja), os quais aplicavam (ou permitiam) pesos e medidas que se tornavam variáveis de terra para terra. 
As medidas reais não tiveram, por isso, grande sucesso e nunca foi possível medidas universais em todo o país. A reforma mais consistente e mais duradoura (manteve-se até ao início do século XIX) foi a de D. Manuel I, ajustada por D. Sebastião.

No chão, em primeiro plano, caixa de pesos.

Até que...
Em 1814, o príncipe regente D. João (que viria a reinar com o nome de D. João VI) deu o seu acordo à reforma dos pesos e medidas, preparada por uma comissão, e ordenou que passassem imediatamente a fabricar os padrões dos novos pesos e medidas, baseados no Sistema Métrico Decimal, a exemplo do que se fizera em França.
A ordem real foi cumprida e foram fabricados conjuntos de padrões para distribuir pelos concelhos. 



O Sistema Métrico Decimal adotou três unidades básicas de medida - o metro, o litro e o quilograma.
Neste sistema, as medidas estavam todas relacionadas: a unidade de capacidade foi definida a partir da unidade de comprimento e a de peso a partir da de capacidade. 
Tratava-se de um sistema universal, pois a unidade de origem baseava-se em algo imutável: o tamanho da Terra. O metro equivale à décima milionésima parte da distância da linha do Equador ao Pólo Norte.



O Sistema Métrico Decimal é o percursor do Sistema Internacional de Unidades (SI), estabelecido em 1960, que é o sistema de medidas utilizado atualmente em Portugal.  


21 de janeiro de 2021

14 de janeiro de 2021

Turmas 5.º C e 5.º D - Guião de Estudo para a ficha de avaliação

As turmas do 5.º C e do 5.º D podem encontrar aqui o Guião de Estudo para a ficha de avaliação.

Bom estudo!

As dúvidas podem ser colocadas nas aulas ou através do Google Classroom. 


Turmas 5.º A e 5.º B - Guião de Estudo para a ficha de avaliação

As turmas do 5.º A e do 5.º B podem encontrar aqui o Guião de Estudo para a ficha de avaliação.

Bom estudo!

As dúvidas podem ser colocadas nas aulas ou através do Google Classroom. 


19 de novembro de 2020

Turmas 5.º A, 5.º B, 5.º C e 5.º D - Guião de Estudo para a ficha de avaliação

As turmas do 5.º A, 5.º B, 5.º C e 5.º D podem encontrar aqui o Guião de Estudo para a ficha de avaliação.

Bom estudo!

As dúvidas podem ser colocadas nas aulas ou através do Google Classroom. 

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P.S. - Penso estar resolvido o problema da ligação.


21 de outubro de 2020

A descoberta do Estreito de Magalhães


A 21 de outubro de 1520, exatamente há 500 anos, tinha início o descobrimento da ligação entre os oceanos Atlântico e Pacífico, uma proeza levada a cabo por Fernão de Magalhães.
Foi nesse dia que se identificou o cabo que, depois, se verificou estar na entrada do acesso à tão procurada passagem para o “mar do Sul”, nome inicialmente dado ao Oceano Pacífico. Essa passagem veio a chamar-se Estreito de Magalhães, em sua homenagem.
Perante a grande alegria suscitada com a descoberta desta passagem, António Pigafetta, o cronista que seguia a bordo e narrou a viagem, declarou entusiasmado que não havia “no mundo um país mais bonito e um estreito melhor que aquele” e registou o facto de Fernão de Magalhães ter chorado de alegria com essa descoberta.


Não admira a alegria de Fernão de Magalhães, pois os tripulantes da sua armada já estavam convencidos de que a terra era fechada até ao Pólo Sul e que essa passagem, portanto, não existia.
Passava mais de um ano que a armada comandada por Fernão de Magalhães, ao serviço do rei de Espanha, inicialmente composta por 5 naus, saíra de Sevilha e buscava esta passagem.
Só a persistência de Magalhães permitiu que este ponto fosse alcançado, abrindo caminho ao seu objetivo: chegar às ilhas Molucas, as ilhas ricas em especiarias e que atualmente fazem parte de um país chamado Indonésia.


E que fazia um capitão português a capitanear uma armada ao serviço do rei de Espanha?
Fernão de Magalhães, nascido cerca de 1480, prestara vários serviços militares à coroa portuguesa. Ferido com alguma gravidade no norte de África, nunca recuperara completamente dessa mazela e recebia uma pensão que considerava ser baixa e não estar de acordo com a qualidade dos serviços prestados e com os riscos que correra.
O rei D. Manuel I recusou-se a aumentar-lhe a pensão e, descontente, Fernão de Magalhães decidiu ir para Espanha e apresentar ao rei Carlos I, o futuro imperador Carlos V, o projeto de uma viagem destinada a encontrar, no sul da América, a passagem do Atlântico para o Pacífico e atravessar este oceano até atingir as ilhas das especiarias. Propunha-se provar, também, que estas ilhas estavam localizadas no hemisfério espanhol, o que, a ser verdade, iria trazer muitas riquezas para o rei espanhol.


Devemos lembrar-nos que, em 1494, Portugal e Espanha, as duas grandes potências marítimas da época, para evitarem entrar em confronto, assinaram o Tratado de Tordesilhas: a Terra foi dividida em duas partes – o hemisfério português e o hemisfério espanhol. O que fosse descoberto ou conquistado em cada uma dessas partes pertencia ao país em cujo hemisfério se situasse.
Atraído pela ideia de futuras riquezas, o rei de Espanha aceitou a proposta de Fernão de Magalhães e nomeou-o capitão-mor de uma armada conhecida como a “Armada das Especiarias”.
Foi essa armada que, já reduzida a 3 navios, acabou por percorrer o autêntico labirinto que constitui o estreito agreste de 620 km, até entrar no Oceano Pacífico, a 28 de novembro de 1520.



Ultrapassado o estreito, Magalhães iniciou uma audaciosa navegação por mar aberto, através do oceano a que ele deu o nome de Pacífico.
Foram percorridos cerca de 18 mil km de um mar desconhecido e que não se pensava que fosse tão extenso, durante 3 meses e 9 dias. A tripulação confrontou-se com a fome e com a doença, sobretudo o escorbuto.
Quase a atingir o destino da viagem, Fernão de Magalhães foi morto durante um combate no arquipélago das Filipinas.
Entregue a outros capitães, a armada acabaria por chegar às ilhas das especiarias.
Depois de muitas aventuras no “Mar do Sul”, só uma das naus, comandada por Juan Sebastián de Elcano, regressaria a Espanha, navegando pela conhecida rota portuguesa do Cabo da Boa Esperança.


A 6 de Setembro de 1522, três anos depois da partida, a nau Vitória, com 18 homens a bordo, regressava ao ponto de partida - San Lúcar de Barrameda.
Estava concluída a primeira viagem de circum-navegação - a primeira volta ao mundo.
Confirmava-se que a Terra tem forma esférica, provava-se que os oceanos estão interligados e ficava-se com a verdadeira noção da dimensão do nosso planeta.
Apesar de não ter concluído a viagem, Fernão de Magalhães foi o seu grande mentor. Foi ele que comandou a armada nos percursos nunca antes percorridos e que deu o nome ao Oceano Pacífico e é em sua homenagem que existe o estreito com o seu nome.


Pode seguir aqui a viagem de Fernão de Magalhães, à distância de 500 anos. 


24 de agosto de 2020

Revolução Liberal de 1820 - A cidade do Porto


O Porto foi uma cidade agente da "fermentação liberal".

Tratava-se de uma cidade com uma burguesia relevante, com comunidades inglesa e francesa. Tinha um papel ativo nas trocas internacionais, sendo o comércio com o Brasil e com a Inglaterra o principal propulsor da dinâmica económica da cidade.


A abertura dos portos brasileiros (1808) e o Tratado de Comércio e Navegação com a Inglaterra (1810) fez reduzir drasticamente o valor das exportações. O Porto foi muito prejudicado por essa situação.
Cresceram as críticas à situação de hegemonia económica britânica e à dependência portuguesa.

Sendo uma cidade segunda, longe da capital, era um espaço propício ao contrapoder, escapando, de alguma forma, a um controlo mais apertado do poder político/policial.

Depois de uma frustrada conspiração liberal (1817), foi na cidade do Porto que alguns liberais formaram uma associação a que deram o nome de Sinédrio, "destinado a espreitar atenta a opinião pública, e até a encaminhá-la a fazer uma mudança de governo em Portugal, dirigindo os espíritos para as ideias liberais nas três províncias do Norte do Reino, sendo nisto auxiliados pelos jornais portugueses que se imprimiam em Londres." (Luz Soriano)



As causas da Revolução Liberal de 1820


A Revolução Liberal de 1820 insere-se nas chamadas revoluções atlânticas - um largo número de revoluções que aconteceram na América e na Europa - nos dois lados do Atlântico - tendo como casos maiores a Revolução Americana (com a declaração de independência dos Estados Unidos, em 1776) e a Revolução Francesa (1789) e como exemplo mais próximo (e influenciador da revolução portuguesa) o restabelecimento da Constituição de Cádis de 1812, em finais de janeiro de 1820.

Foram revoluções inspiradoras que procuraram a criação de uma nova ordem em que a soberania assentava na Nação feita de cidadãos e não no rei. Defendia-se um modelo de organização política baseada na separação de poderes e na defesa de direitos e garantias individuais, em que a liberdade de expressão era uma das grandes causas. 

Para além dos "ventos de mudança" que assolavam o mundo, encontramos na realidade portuguesa motivos muito concretos que levaram à Revolução Liberal. Eles são por demais evidentes.

A chegada da Corte portuguesa ao Brasil (1808)

A Corte há muito que se encontrava no Brasil, depois de ter saído de Portugal quando da 1.ª invasão francesa (1807). Portugal estava "transformado em colónia da sua colónia".
Havia um "sentimento de orfandade e de periferização vivido na metrópole perante a ausência da Corte no Rio de Janeiro, que absorvia largas rendas". (Jorge Fernandes Alves)

Portugal estava entregue a um Conselho de Regência, submisso ao general inglês William Beresford, comandante do Exército de Portugal e multiplicavam-se os oficiais ingleses. 
Política e militarmente, Portugal era dominado pela potência que o tinha ajudado a resistir às invasões napoleónicas.

«No começo de oitocentos, a sociedade portuguesa seguia repetindo rotinas ancestrais em praticamente todos os domínios da sua existência. Com uma população de escassos três milhões de habitantes, o país era esmagadoramente rural, muito pobre e, claro está, analfabeto.» (M.ª Fátima Bonifácio)


A economia portuguesa não havia sido transformada por qualquer processo de industrialização. Após as invasões francesas, o tecido produtivo português, se já era fraco, ficou destruído. A guerra arrasara muitos campos, as fábricas que já eram poucas e de pequena dimensão encerraram, os negócios foram interrompidos. A rede de comunicações era muito má.
«As atividades económicas em Portugal no princípio do século XIX, quer a produção, quer a circulação, quer o consumo, correspondiam assim aos padrões ancestrais da sociedade tradicional.» Antes das invasões, "entre metade e dois terços das receitas do Estado tinham origem no comércio que ligava o Brasil à Europa." (Rui Ramos). A perda de negócios do Brasil foi fatal, arruinando o Estado.

Selos brasileiros que comemoraram a abertura dos portos do Brasil às nações amigas,
150 e 200 depois, respetivamente. No primeiro destes selos, a figura de D. João VI

A regência estava subordinada aos interesses estratégicos ingleses, protegidos pelos tratados de amizade e de comércio que ditavam prerrogativas e privilégios prejudiciais aos comerciantes e industriais portugueses.

«Magistrados, militares e homens de negócios convergiam na mobilização para uma mudança que se afigurava inaceitável, regeneradora.» (José Luís Cardoso)
Num assomo de indignação patriótica, não é de estranhar que houvesse um entendimento geral sobre o propósito de trazer o rei de volta do Brasil, de quebrar o poder da tutela inglesa e de regenerar o país.




O que aconteceu no dia 24 de Agosto de 1820




Há 200 anos, o início da Revolução Liberal

 «As ideias de revolução eram gerais. Rapazes e velhos, frades e seculares, todos a desejavam. Uns, que conheciam as vantagens do governo representativo, queriam este governo; e todos queriam a corte em Lisboa, porque odiavam a ideia de serem colónia de uma colónia.»  (Marquês de Fronteira, Memórias, vol. I)
Alegoria à Revolução no Porto, a 24 de Agosto
Gravura, António Maria da Fonseca, 1820

A Revolução Liberal, iniciada em 24 de Agosto de 1820, foi o acontecimento impulsionador das mudanças essenciais que abriram caminho para a formação do Portugal contemporâneo.
O processo de implementação do liberalismo ocuparia boa parte da primeira metade do século XIX.

As comemorações do bicentenário da Revolução, que, à partida, já me pareciam demasiado limitadas à cidade do Porto, acabaram por se desvanecer, em virtude da situação de pandemia que se vive. E é pena, pois mereciam um destaque muito maior. A data simboliza a queda do Antigo Regime, a liberdade, o constitucionalismo e a soberania da Nação, constituindo-se como um marco decisivo na trajetória da sociedade portuguesa.



Os acontecimentos do dia 24 de Agosto de 1820 centraram-se na cidade do Porto e estiveram longe de ter a mesma dimensão dramática dos acontecimentos iniciais da Revolução Francesa cerca de 30 anos antes. Não assumiram o carácter de revolta social, não tendo ocorrido tumultos violentos.
«Foi um mero e tranquilo levantamento de tropas insatisfeitas, convencidas por magistrados e homens de negócios estabelecidos na cidade do Porto da inevitabilidade e relevância desse gesto heróico. Foi um pronunciamento militar que de forma pacífica ditou o princípio do fim de uma época histórica.» (José Luís Cardoso, A Revolução Liberal de 1820)

Quartel de Santo Ovídio (Infantaria 18), gravura (cerca de 1850)

Ao nascer do dia, o coronel Cabreira reuniu a artilharia no Campo de Santo Ovídio (atual Praça da República), em frente ao quartel-general, e mandou dizer missa ao capelão, num altar improvisado, seguindo-se uma salva de 21 tiros, forma de anunciar o início da revolução.


Para o mesmo local convergiram outras forças militares. Formou-se o Conselho Militar, composto pelos comandantes dos principais regimentos em presença, e leram-se duas proclamações, pelos dois principais militares envolvidos: o coronel Sebastião Drago Valente de Brito Cabreira (de Artilharia 4) e o coronel Bernardo Corrêa de Castro e Sepúlveda (de Infantaria 18).


As duas proclamações

As proclamações tinham sido previamente escritas por Manuel Fernandes Tomás e/ou José Ferreira Borges (há divergências entre os historiadores), tendo por finalidade incitar os soldados a cooperarem "na salvação da Pátria e no restabelecimento de um Governo Nacional sob a autoridade de El-Rei D. João VI".
O fundamental era congregar as tropas, fazer o pronunciamento e declarar o início dos novos tempos. Seguir-se-ia a organização de um governo provisório que devia promover a reunião das Cortes Constituintes encarregadas de elaborar uma Constituição para o país.
A adesão do resto do país à nova ordem alastraria com o decorrer do tempo.

O Campo de Santo Ovídio em 1900 (de Fb Porto Desaparecido)

Içou-se a bandeira da monarquia na fachada do quartel, as bandas militares tocaram o hino nacional da época e foi prestado juramento ao Rei (no Brasil) e ao Conselho Militar.
O pronunciamento terminou com vivas ao rei D. João VI, ao Exército Português, à Santa Religião e à Constituição que as Cortes deveriam elaborar.
Os soldados e o povo que entretanto se aglomerara acompanharam os vivas.

Depois, os soldados desfilaram em direção à Praça Nova das Hortas, onde se situava a Câmara Municipal do Porto. Com as tropas formadas em parada, os chefes da revolta entraram nos Paços do Concelho onde se encontravam os vereadores, juízes, procuradores e o bispo da diocese.

Edifício dos Paços do Concelho, ao cimo da praça
(fotografia de uma época já posterior,
com a estátua de D. Pedro IV, inaugurada em 1866)

Aí foi declarada a destituição do Governo de Regência de Lisboa e proclamada a formação da Junta Provisional do Governo Supremo do Reino. Foi também redigido um Manifesto aos Portugueses, divulgado no próprio dia 24.
A ata da reunião, redigida por José Ferreira Borges, reafirma o teor das proclamações e esclarece que a Junta governaria em nome de D. João VI.
«Rompeu o dia 24, e ao som dos clarins, e da artilharia se fizeram em pedaços os grilhões que nos algemavam, e com tanto sossego se proclamou a nossa independência, que ninguém sofreu o mais pequeno incómodo: imenso povo assistiu à reunião das tropas em Santo Ovídio, ouviu as proclamações, misturou-se no meio dos vivas, e da alegria com a tropa de tal maneira que quando chegaram à Praça Nova o contentamento era universal.»  (José da Silva Carvalho, 1820)


O 24 de Agosto de 1820 iniciou um agitado ciclo histórico que só terminaria em 1851.
Pelo meio, as primeiras eleições em Portugal, a aprovação da primeira Constituição, o violento estertor do absolutismo, a dramática guerra civil entre liberais e absolutistas e as desavenças políticas constantes entre liberais moderados e liberais radicais.


27 de julho de 2020

Salazar morreu há 50 anos

O anúncio da morte de António de Oliveira Salazar pôs fim ao ambiente de especulação que se arrastava sobre o estado de saúde do ditador, para o que contribuía o funcionamento dos serviços de censura.

Salazar ascendera a Chefe de Governo no ano de 1932, em plena Ditadura Militar, e nesse cargo permaneceria até setembro de 1968, altura em que "um brusco e grave acidente vascular" o levou a um estado de coma que os médicos entenderam como irrecuperável. Foi então substituído pelo Prof. Marcelo Caetano.

Salazar recuperaria, embora não totalmente. Até ao fim viveu num ambiente cuidadosamente protegido, visitado por ministros e por jornalistas da confiança do regime. Não tinha acesso a jornais, à rádio e à televisão, acreditando que ainda era Chefe do Governo.
Este ambiente manteve-se até ao surgimento de uma septicemia generalizada, a 15 de julho de 1970.

A 27 de julho, os jornais foram informados, por via oficial, através da Secretaria de Estado da Informação e do Turismo da morte de Salazar.


O carácter tão pessoal da ditadura do Estado Novo, por essa razão também chamada Salazarista, fica patente na associação estreita entre o declínio físico do ditador e o declínio do regime.
O Estado Novo, regime político ditatorial e repressor por si criado, só sobreviveu 6 anos à sua doença, 4 anos à sua morte.

Deposição do retrato de Salazar
25 de Abril de 1974