25 de Abril de 1974

24 de agosto de 2020

As causas da Revolução Liberal de 1820


A Revolução Liberal de 1820 insere-se nas chamadas revoluções atlânticas - um largo número de revoluções que aconteceram na América e na Europa - nos dois lados do Atlântico - tendo como casos maiores a Revolução Americana (com a declaração de independência dos Estados Unidos, em 1776) e a Revolução Francesa (1789) e como exemplo mais próximo (e influenciador da revolução portuguesa) o restabelecimento da Constituição de Cádis de 1812, em finais de janeiro de 1820.

Foram revoluções inspiradoras que procuraram a criação de uma nova ordem em que a soberania assentava na Nação feita de cidadãos e não no rei. Defendia-se um modelo de organização política baseada na separação de poderes e na defesa de direitos e garantias individuais, em que a liberdade de expressão era uma das grandes causas. 

Para além dos "ventos de mudança" que assolavam o mundo, encontramos na realidade portuguesa motivos muito concretos que levaram à Revolução Liberal. Eles são por demais evidentes.

A chegada da Corte portuguesa ao Brasil (1808)

A Corte há muito que se encontrava no Brasil, depois de ter saído de Portugal quando da 1.ª invasão francesa (1807). Portugal estava "transformado em colónia da sua colónia".
Havia um "sentimento de orfandade e de periferização vivido na metrópole perante a ausência da Corte no Rio de Janeiro, que absorvia largas rendas". (Jorge Fernandes Alves)

Portugal estava entregue a um Conselho de Regência, submisso ao general inglês William Beresford, comandante do Exército de Portugal e multiplicavam-se os oficiais ingleses. 
Política e militarmente, Portugal era dominado pela potência que o tinha ajudado a resistir às invasões napoleónicas.

«No começo de oitocentos, a sociedade portuguesa seguia repetindo rotinas ancestrais em praticamente todos os domínios da sua existência. Com uma população de escassos três milhões de habitantes, o país era esmagadoramente rural, muito pobre e, claro está, analfabeto.» (M.ª Fátima Bonifácio)


A economia portuguesa não havia sido transformada por qualquer processo de industrialização. Após as invasões francesas, o tecido produtivo português, se já era fraco, ficou destruído. A guerra arrasara muitos campos, as fábricas que já eram poucas e de pequena dimensão encerraram, os negócios foram interrompidos. A rede de comunicações era muito má.
«As atividades económicas em Portugal no princípio do século XIX, quer a produção, quer a circulação, quer o consumo, correspondiam assim aos padrões ancestrais da sociedade tradicional.» Antes das invasões, "entre metade e dois terços das receitas do Estado tinham origem no comércio que ligava o Brasil à Europa." (Rui Ramos). A perda de negócios do Brasil foi fatal, arruinando o Estado.

Selos brasileiros que comemoraram a abertura dos portos do Brasil às nações amigas,
150 e 200 depois, respetivamente. No primeiro destes selos, a figura de D. João VI

A regência estava subordinada aos interesses estratégicos ingleses, protegidos pelos tratados de amizade e de comércio que ditavam prerrogativas e privilégios prejudiciais aos comerciantes e industriais portugueses.

«Magistrados, militares e homens de negócios convergiam na mobilização para uma mudança que se afigurava inaceitável, regeneradora.» (José Luís Cardoso)
Num assomo de indignação patriótica, não é de estranhar que houvesse um entendimento geral sobre o propósito de trazer o rei de volta do Brasil, de quebrar o poder da tutela inglesa e de regenerar o país.




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